sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Uma SHTF não vai ser divertida

Gostaria de fazer um alerta.

O fim não vai ser divertido. Não vai ser como nos filmes em que o herói escapa de todos os perigos e ainda fica com a mocinha no final. E nem a heroína vai, com sua metralhadora com munição inesgotável, além de uma mira perfeita, matar todos os malfeitores, e no final, ficar com o mocinho e ser mãe da órfã. Não funciona assim.

Para começar, quem garante que você vai sobreviver ao caos? Sim, eu sei, você se prepara, eu me preparo. Mas, no caos em que se transformaria um mundo durante uma SHTF , nada é garantido. Por mais que eu me prepare, pode acontecer alguma coisa justamente num momento em que eu esteja muito longe, em outra cidade e eu terei que brigar por recursos, morrendo no processo. Pode acontecer, durante a sua fuga para o seu refúgio, um acidente, um assalto, que vão te matar. Você pode até mesmo perder as suas preparações para um grupo maior e mais bem armado que o seu e perder a vida no processo.
Quem acha que vai pegar um carro, ou uma moto e conseguir rodar pela cidade, escapando de tudo e todos, em direção ao seu refúgio, pode tirar o cavalinho da chuva. Para começar, trafegar pelas maiores cidades, sem energia para controlar os sinais de trânsito seria praticamente impossível. Você ficaria preso num imenso congestionamento. As motos seriam menos sensíveis à isso, mas por outro lado, quem estivesse numa delas sofreria diversas tentativas de assalto e de assassinato. Para quem acha que seria só pegar um caminhão ou ônibus e sair passando por cima de tudo, peço que repense. São poucas as pessoas que sabem dirigi-los e eles não foram feitos para ser veículos de demolição. E nem tratores, e nem tanques. Talvez o único veículo capaz de passar realmente por cima de tudo seria uma daquelas caminhonetas chamadas bigfoots, com aqueles pneus enormes. Mas, se alguém souber aonde vende aqui no Brasil, sou todo ouvidos! E se você acha que estar armado vai te trazer segurança durante o caos, pode esquecer. Talvez você consiga evitar muitas situações perigosas com o que uma arma representa. Mas não se iluda. Uma pedra bem arremessada na sua cabeça pode rapidamente acabar com seu poder de fogo. E também com sua vida.
Ok! Mas, vamos supor que você sobreviveu e chegou ao seu refúgio. Por mais isolado e bem guardado seja o local que você escolheu para se abrigar durante a crise, como você acha que você ou eu vamos ficar? Descansando, escondidos, enquanto o mundo "lá fora" se acaba? Que nada! Teremos que ficar o tempo todo alertas, tentando chamar o mínimo de atenção. Teremos que ter cuidado até com as luzes que acenderemos e com o cheiro do cozimento de alimentos. As pessoas desesperadas serão atraídas pelo seu menor vacilo. Imagine um grupo desesperado e com fome sentindo o cheiro de assado daquela galinha que você abateu de sua criação. Por mais armas que você tivesse, um grupo grande de pessoas desesperadas seria impossível de parar. Se duvida do que eu digo, veja o que aconteceu em locais onde há muitos refugiados e pouca comida. Em países da África, por exemplo, caminhões com víveres foram atacados na hora da distribuição, mesmo sendo protegidos por dezenas de soldados armados.
Mesmo se tivéssemos a sorte de ficar suficientemente escondidos e evitar todo e qualquer tipo de confronto, nos sentiríamos isolados e tristes, imaginando o que aconteceu com muitas das pessoas que nos eram próximas antes da crise. Amigos, parentes, colegas, conhecidos. No caos, não saberíamos de nada sobre a maioria das pessoas. Sem comunicações, não saberíamos nem o que aconteceria no próximo quarteirão ou no próximo sítio. As únicas pessoas com as quais poderíamos manter contato seriam as que estivessem conosco no refúgio. Isso seria terrível. Para pessoas que se acostumaram a ter o mundo na palma da mão, pelo menos no que diz respeito à contatos e comunicação, de repente ficar tão isolados quanto das pessoas há 200 anos seria desesperador. Na verdade, nem teríamos como saber quando as coisas se acalmassem, a não ser que tivéssemos transmissores/receptores de rádio, além da energia para fazê-los funcionar.
E, depois de passado todo o caos, num mundo pós-SHTF teríamos que reaprender a viver. Sem hospitais, sem escolas, sem transportes, sem comunicações. Nossas preparações acabariam uma hora e teríamos que aprender a tirar o sustento da terra. Até mesmo o escuro e o silêncio das noites de luzes apagadas seria deprimente para pessoas que cresceram em noites iluminadas.
É, seria (ou será) duro para aqueles que sobreviverem ao caos.

Sempre que escrevo meus textos, imagino o pior cenário possível de uma crise. Aquela que acabaria com nossa sociedade. E tento me preparar é para o pior. Mas, todas as noites peço para que nada de tão drástico aconteça. Ao contrário do que muitos pensam, esse mundo não ficaria melhor para as pessoas depois de uma crise. Não só continuaríamos sendo humanos, ou seja, dominando e torturando os nossos semelhantes, como ainda perderíamos os grandes avanços que conseguimos nos últimos 150 anos. Quem acha que a vida vai ser muito melhor sem a tecnologia, na primeira dor de cabeça vai procurar um analgésico. Ou seja, contradição pura. As únicas pessoas que praticamente não sentiriam o colapso de nossa sociedade tecnológica são aquelas poucas tribos indígenas que ainda vivem isoladas nas florestas. Para eles, viver assim é natural, Mas para pessoas que sempre viveram cercadas de tecnologia ter que largar tudo, não será fácil.

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